O gesto de Benjamin Franklin que vai te ajudar em hackathons
Benjamin Franklin foi um homem de muitos gestos notáveis. Inventou o pára-raios, as lentes bifocais e até mesmo as barbatanas de mergulho. Fundou a Universidade da Pensilvânia e foi um dos founding fathers dos Estados Unidos ao contribuir para a independência americana. Mas, obviamente, hackathons não eram algo que Benjamin Franklin teve contato. Então você deve estar se perguntando como raios (pegou a referência?) essa personalidade do século 18 vai me ajudar em uma maratona de tecnologia? E a resposta para isso começa com o episódio que motivou o gesto que dá título a este texto…
A disputa política que precedeu o gesto
Em 1737, Benjamin Franklin estava buscando a reeleição na Assembleia Legislativa da Pensilvânia, porém um rival não vinha deixando a sua vida política fácil. Dá pra dizer que o oponente era mais que um rival, era a completa antítese de Franklin. Se o homem que hoje ostenta o rosto na nota de 100 dólares gritasse Palmeiras, o rival gritava Corinthians; se Franklin dissesse biscoito, o rival dizia bolacha. A disputa não era entre dois homens, e sim entre dois pólos opostos — inclusive, isso parece até bem atual, não?
Franklin começou a deduzir que esse homem tinha algo contra a sua pessoa, que a antipatia já estava indo muito além do campo das ideias. E, além do mais, o founding father precisava tomar uma iniciativa para pôr fim à essa campanha de difamação. É aí que o gesto entra em cena. Benjamin Franklin pediu ao seu rival um livro emprestado.
O pedido de ajuda traduzido em gesto
Franklin sabia que o rival possuía um livro bem raro em sua biblioteca, e que a obra poderia ser bem interessante. Ele então escreveu uma carta pedindo se possível o livro emprestado por alguns dias, dando detalhes da sua intenção em se aprofundar no tema tratado pelo autor. Para a sua surpresa, o seu doppelganger respondeu rapidamente e ainda com o livro para Franklin matar sua curiosidade.
Após a leitura, Benjamin Franklin respondeu agradecendo e comentando sobre como a leitura havia sido prazerosa.
Quando os dois se encontraram novamente, o tratamento foi da água para o vinho. Ambos, que antes eram inimigos ferrenhos, construíram uma amizade que durou até o fim de suas vidas.
A psicologia deu nome: efeito “Benjamin Franklin”
Existe uma explicação científica por trás do gesto. Psicólogos já disseram que, quando pedimos ajuda para outras pessoas, isso faz com que elas tenham uma avaliação melhor sobre nós. Nós sentimos prazer em ajudar os outros, e esse sentimento acaba criando uma co-relação com a pessoa que o provocou.
Pedir um livro emprestado envia uma mensagem clara de que você precisa de ajuda para arejar suas ideias a partir desse objeto que a outra pessoa possui. É ainda uma forma de gentileza e abertura para com as ideias do outro. A psicologia definiu esse fenômeno como efeito “Benjamin Franklin”.
O gesto de pedir ajuda tem o poder de causar uma verdadeira mudança na nossa relação com outra pessoa. Em outras palavras, da próxima vez que você for pedir ajuda para alguém, lembre-se de como isso também vai ajudar elas a se sentirem melhor.
E o que isso tudo tem a ver com hackathons?
De todos os hackathons que ajudei a organizar, a colaboração entre as equipes quase nunca foi motivo de desgaste, muito pelo contrário. O que sem sombra de dúvida, torna a experiência muito mais gratificante. E falando ainda de hackathons sociais, como é o caso do nosso Hackathon do Bem, o trabalho em equipe é um dos pontos altos do evento.
Porém, vamos lá, “quase nunca” não é “nunca”.
Já presenciei momentos em que era perceptível a dificuldade de integração de um membro, e como isso colocava tudo a perder para a equipe. E, “integração”, é uma palavra-chave para você entender a importância da união da sua equipe em um hackathon.
Pense só: um time em que o melhor marketeiro, ou o melhor desenvolvedor, é deixado de lado. Isso pode até num primeiro momento passar despercebido, mas a consequência vai vir lá na frente. Na hora do pitch, você vai pensar como teria sido bom uma participação maior daquele seu colega de marketing. Acredite, um bom storytelling de vendas faz muita falta; da mesma forma como teria sido importante uma participação maior do desenvolvedor do time para entregar aquela solução mais robusta e um código-fonte mais claro.
Seja também um aprendiz no seu time
Se você é um dos que têm dificuldade em se integrar não se preocupe, isso é algo a que todos nós estamos sujeitos. Nem mesmo Benjamin Franklin agradou no começo, muito provavelmente você também não vai.
Eu nunca me esqueço de uma situação semelhante que vivi. Quando comecei a trabalhar em uma startup brasileira, sofri resistência de uma pessoa da equipe, o que tornou o processo de integração bem mais difícil. Entendendo melhor a situação da empresa, vi que havia muito descontentamento por conta da falta de reajuste nos salários pagos na época, e bem…eu, recém-contratado como sênior, convenhamos não iria encontrar a recepção mais calorosa naquele momento.
Por mais que existissem fatores externos além do meu alcance, o modo de encarar essa situação era algo que eu tinha controle. Uma das atitudes que tomei era procurar em certos períodos de pausa do time, me engajar com a tal pessoa em conversas de interesse mútuo (não, não falamos sobre livros, mas poderíamos) e, o importante, mostrando uma postura de aprendiz. Até porque no final das contas, era uma pessoa interessante que compartilhava gostos parecidos e poderia me ajudar a aprender mais. Isso foi quebrando o gelo. Foi criando confiança e derrubando antipatias gratuitas, de ambos os lados. Eu também acabei me motivando pelo desafio de mudar essa impressão inicial, e foi o que aconteceu: somos amigos até hoje.
Agora, cuidado com uma interpretação. Não se trata de exercer de alguma forma manipulação sobre as pessoas. Desconfio que quem acredita nisso tem sérias dificuldades de ajudar e pedir ajuda. O efeito “Benjamin Franklin” é apenas o modo de conceituar o que bons modos sempre resultaram: fomentar relacionamentos baseados na reciprocidade da confiança e colaboração.
Em um hackathon são muitas as situações que podem dificultar a sua integração no time.
É esperado que em muitos momentos você assuma um papel de professor, e outras vezes de aprendiz. A armadilha aqui é querer ser só o professor. Benjamin Franklin cantou a pedra. Colocar a camisa de aprendiz não é só necessário, é recomendado na hora de convergir ideias.
Aprenda com o seu time. Pergunte e mostre interesse no que os seus colegas têm a compartilhar. Seja curioso e adote uma escuta ativa. E se sentir vontade no final, peça um livro emprestado. Afinal de contas, um hackathon não é sobre vencer, é sobre aprender.